segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Estrelas que tocam o chão...


Algures num infantário da vila de Vidigueira um menino fez um desenho curioso. Um desenho que causou grande admiração entre as outras crianças e despertou a curiosidade da própria educadora. A criança tinha desenhado um céu cheio de estrelas mas algumas dessas estrelas estavam tão próximas do chão que chegavam a tocá-lo com os seus pequenos raios.
As outras crianças diziam que o desenho estava mal feito, que as estrelas não estavam no lugar delas e que não podiam estar tão em baixo.
O menino estava confuso e não percebia a razão de toda aquela admiração. Dizia que era assim que ele via as estrelas todas as noites.
Depois de pensar um pouco a educadora entendeu então o menino. Era uma criança de raça cigana e, de facto, à noite quando ela estava no seu acampamento longe das luzes e dos edifícios da vila, as estrelas brilhavam de forma mais intensa, a fina linha do horizonte que delimita o céu e a terra como que se diluía e de forma quase misteriosa desaparecia. O céu e aterra misturavam-se, confundiam-se e por vezes não se sabia bem onde terminava um e começava o outro. Assim havia algumas estrelas que pareciam tocar no chão. Era assim que aquela criança via normalmente as estrelas.
Ofuscados pelas luzes das nossas cidades e ocupados pelas nossas rotinas esquecemo-nos por vezes da forma como as estrelas continuam a brilhar acima de nós e de como elas por vezes parecem tocar a terra.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Escrever...

"Por mais que fujamos, sempre chega aquela hora em que nada mais nos resta senão escrever, escrever e escrever, namorar ideias e emoções. Continuar a escrever. Ter sempre vivo o sonho de escrever.
Não tomar remédio para baixar a febre de escrever.
Escrever para quê? Sobre o quê? De que modo? A que preço? Com todas as forças? Com quais fraquezas?
Esses e aqueles deslimites.
E o desejo vasto de encantar. Quem escreve quer encantar.
Já entendeu que é feiticeiro? Ou fada ou bruxa ou brincante?

Prepare o seu caldeirão de ritmos, sons, sabores, cheiros e substâncias.
Quem quer escrever, escreve. Principalmente, se terminou de ler um livro maravilhoso. Um livro maravilhoso escreve outros livros dentro da gente.
É preciso saber ler esses livros dentro da gente."

Stela Maris de Rezende - Esses livros dentro da gente

domingo, 4 de novembro de 2007

Árvore dos sorrisos

A árvore dos sorrisos tem frutos com as mais diversas formas e sabores. Existem sorrisos quentes e doces, sorrisos frios que nos congelam, sorrisos amarelos, sorrisos que nos embalam suavemente ao som de melodias inesquecíveis, sorrisos pelos quais vale a pena esperar mil e uma noites, sorrisos que aquecem o coração nos dias frios de inverno, sorrisos que ao cair semeiam muitos mais sorrisos, sorrisos que marcam a sua presença, sorrisos que se escondem timidamente por entre as folhas, sorrisos que fazem sorrir, sorrisos que fazem chorar, sorrisos capazes de mover gigantescas montanhas, sorrisos que escondem pequenos segredos, sorrisos com espinhos que ferem os dedos ao tentar descascá-los, sorrisos que iluminam tudo à sua volta, sorrisos que falam sem palavras, sorrisos que encantam qual encantador de serpentes, sorrisos ternos que contam histórias antigas por vezes mil vezes contadas mas sempre com um gosto diferente e maravilhoso, sorrisos bússola que orientam marinheiros nas noites sem luar e sem estrelas, sorrisos com cafeína que nos afugentam o sono e nos fazem sonhar acordados, sorrisos que fortalecem e despertam um herói escondido no coração de alguém, sorrisos que valem por uma eternidade…
Algures no nosso quintal todos temos uma árvore dos sorrisos. Todos já provámos alguns dos seus frutos exóticos.
A árvore dos sorrisos quer-se bem regada todos os dias ao nascer e ao pôr-do-sol...