quarta-feira, 20 de julho de 2011

Há muitos, muitos anos...



Há muitos, muitos anos existia um príncipe que morava num reino cheio de sol e de mar. O seu pai, o rei, procurou no reino vizinho uma mulher de sangue real para casar com o seu filho e encontrou. Era também ela filha de um rei. Antes mesmo de se conhecerem já estava combinada a sua união. Aconteceu o real casório. Ofereceu-se à princesa três vilas do reino como dote e foi consumado o casamento. Dois estranhos uniam-se num “negócio” bom para ambos os reinos. O príncipe não se mostrou muito entusiasmado mas sabia que sempre tinha sido assim na história da sua nação, sangue real teria de se unir com sangue real e por isso respeitou a vontade do pai.
Esta princesa vinha acompanhada por pelas suas aias. Quando o príncipe conheceu as aias da princesa ganhou novo ânimo pois entre elas estava a mulher mais bonita que já tinha visto na sua vida. Não descansou enquanto não lhe ouviu a voz, enquanto não sentiu o cheiro do seu perfume e o calor do seu corpo. Uma paixão intensa surgiu e ambos aproveitavam todos os momentos que estivessem juntos mesmo que fossem pequenos instantes onde apenas um roçar das suas mãos às escondidas fosse possível.
Um dia o rei tomou conhecimento desta paixão extraconjugal do seu filho. Amedrontado com as consequências que esta paixão poderia ter na relação entre os dois reinos mandou que se exilasse esta aia. Três filhos legítimos nasceram do casamento entre os príncipes mas no coração do príncipe estava sempre presente aquela bela aia com quem mesmo no exílio se comunicava com frequência.
O príncipe enviuvou. Agora solitário, mandou que se chamasse o seu grande amor e começou a viver com a aia. Isto provocou um grande escândalo na corte e um enorme desagrado ao seu pai. Apressou-se então o rei a arranjar outra esposa de sangue real para o príncipe viúvo que recusou o que aumentou ainda mais a ira do rei. Deste grande amor foram nascendo filhos, quatro ao todo.
Influenciado pelos seus conselheiros, o cada vez mais enfurecido rei mandou matar a aia. Um terrível acto que ficaria para a história e mancharia para sempre o nome deste rei. Este acto provocou a revolta do filho contra o pai, grandes batalhas ouve no reino com facções que apoiavam cada uma das partes e apenas a intervenção da rainha conseguiu acalmar os ânimos. Mas o príncipe nunca perdoou este acto ao seu pai.
O rei faleceu e aquele que era príncipe tornou-se rei. Assim que foi coroado rei anunciou que tinha casado em segredo com a linda aia antes da sua morte e quis que o nome dela fosse para sempre lembrado como rainha do reino. Não descansou enquanto não encontrou os responsáveis pela morte da sua amada e quando os encontrou foram capturados e executados com extrema brutalidade (a um foi arrancado o coração pelo peito e a outro pelas costas) assistindo enquanto se banqueteava. Mandou também esculpir dois magníficos túmulos reais um para ele e outro para a sua falecida amada, um frente ao outro. Ordenou que se desenterrasse o corpo da amada e fosse transferido para esse túmulo num cortejo fúnebre digno de uma rainha. Dizem que este rei nunca esqueceu a sua amada, que não conseguia dormir, que nas noites de insónias mandava organizar bailes nas vilas para que ele se distraísse junto do povo e não sentisse o peso da solidão. Dizem também que era um rei muito justo, que percorria o reino para assistir a todos os julgamentos que nele havia e tornou-se um dos reis mais populares da história do reino. Reinou durante dez anos e o povo referia-se a esse reinado assim : "que taaes dez annos nunca ouve em Portugal como estes que reinara elRei Dom Pedro".
Esta é a história de D. Pedro I de Portugal e do seu grande amor por D. Inês de Castro coroada rainha depois da sua morte. Uma história que mostra como o amor influencia também o curso e o destino das nações tornando-as dependentes dos sentimentos humanos. Os dois lá estão frente a frente a repousar no bonito Mosteiro de Alcobaça.






A imagem em cima é uma cena da adaptação cinematográfica desta história feita por Leitão de Barros em 1945. Acho que faz falta ao cinema português pegar nestes argumentos históricos e contá-los ao público de forma apetecível e entusiasmante. Se esta história tivesse acontecido nos EUA teria certamente já tido inúmeras adaptações e grandes êxitos de bilheteiras. Realizadores portugueses contem a nossa história aos jovens e deixem-se de vampiros e morangos açúcarados.