domingo, 30 de setembro de 2007

Evasão



“Estas muralhas têm um estranho efeito. Primeiro odiamo-las. Depois habituamo-nos a elas. Quando passa muito tempo ficamos dependentes delas.”

(Red (Morgan Freeman) – Os Condenados de Shawshank)



Andy Dufresne (Tim Robbins), nos seus primeiros
momentos de liberdade após a fuga


Os Condenados de Shawshank é uma óptima adaptação para cinema da obra de Stephen King com excelentes interpretações de Tim Robbins e Morgan Freeman. Retrata a história de um homem inocente que é injustamente condenado a prisão perpétua. Ao contrário dos outros prisioneiros ele recusa a conformar-se e a deixar de ter esperança de um dia ser livre. De forma serena e discreta ele prepara a sua fuga ao longo de anos surpreendendo todos quando um dia a realiza.
As sociedades criam muralhas, barreiras físicas, muros de preconceitos, verdades que acreditam ser únicas e inquestionáveis. Ao fazê-lo sentem-se seguras, o seu mundo fica então organizado e previsível dando-lhes uma falsa sensação de harmonia. Talvez seja uma forma de as pessoas conseguirem viver menos amedrontadas ou talvez necessitem dessas muralhas para que possam viver sem correr riscos imprevistos.
Mas estranho efeito essas muralhas têm: em vez de proteger, isolam os homens, criam verdadeiras políticas de medo entre as nações, aumentam o fosso entre os ricos e os pobres e as desigualdades sociais, semeiam ódios baseados na raça, sexo ou religião criando ciclos intermináveis de violência.
De vez em quando alguém consegue fazer uma abertura através da muralha e passar para o outro lado. Aí consegue ver o quão ridícula é essa muralha, descobre que não existem verdades absolutas, surgem ideias inovadoras e a humanidade dá um passo em frente na direcção da tolerância, da liberdade e igualdade. Tal como o protagonista desta história levou anos a fazer um buraco através da parede da prisão com um pequeno martelo cinzelador, estas muralhas levam também, algumas delas, muito tempo para serem ultrapassadas requerendo perseverança e luta. Aquele que o consegue fazer será para uns, um herói, para outros um louco. Depende talvez do lado da muralha onde cada um se encontra.
Não sei como cada um pode colaborar para a destruição dessas muralhas. Talvez, se cada um de nós contribuir abrindo nem que seja um pequeno orifício nessas grossas paredes, mesmo algo que apenas permita dar um vislumbre daquilo que se pode esconder lá atrás, quem sabe com o conjunto de todas essas pequenas aberturas as muralhas acabem por se enfraquecer e se desmoronar. Talvez devamos começar por destruir as nossas próprias muralhas pondo à prova os nossos limites, livrando-nos de conformismos e preconceitos, pensando livremente abrindo assim caminhos nunca antes percorridos .

2 comentários:

Ana Dionísio disse...

Já vi este filme e adorei, especialmente porque não estava à espera que tivesse uma história e uma mensagem tão especial.
Podem ser muralhas, cordas, grades...que nos prendem mas às quais nos habituamos a pensar que também nos protegem.
bjs

Claudia disse...

olá! o blog ta cada vez melhor! Continua assim! Bjinhos